Resistência e protagonismo: teremos um “longo passado” a percorrer.
Resistência e protagonismo: teremos
um “longo passado” a percorrer.
“Não junto a minha voz às do que, falando em paz, pedem aos
oprimidos, aos esfarrapados do mundo, a sua resignação. Minha voz tem outra
semântica, tem outra música. Falo da resistência, da indignação, da ‘justa ira’
dos traídos e dos enganados. Do seu direito e do seu dever de rebelar-se contra
as transgressões éticas de que são vítimas cada vez mais sofridas”. (Paulo
Freire, 1997, p.113-114)
O dia primeiro de janeiro de 2019 se aproxima e o clima de
apreensão, perplexidade, indignação, medo, está aumentando na medida em que o
Presidente eleito anuncia seu ministério e as medidas que pretende implementar.
Não fazemos coro aos que dizem que devemos aguardar os acontecimentos para
depois julgá-los, pois, realizar o “ajuste fiscal”, promover privatizações
massivas, relativizar ainda mais a legislação trabalhista e reformar a
previdência social são propostas do atual governo que já foram implementadas em
outros países da América Latina (México, Chile, Argentina) nas últimas décadas
com consequências sociais catastróficas e avanços econômicos pífios ou
inexistentes. Além disso, basta fazermos uma rápida leitura de nosso contexto
político e social atual, para detectarmos evidências de tempos sombrios e nada
promissores pela frente. Tempos sombrios que já vivemos no passado e cujas
consequências nocivas precisam ser rapidamente evitadas pelo protagonismo
responsável da sociedade civil.
Cientes de que o governo que se avizinha será a continuidade
aprofundada do retrocesso do governo Temer, devemos preparar-nos para a
resistência, para uma oposição combativa e mobilizadora das forças
progressistas e populares. Nosso dever cívico neste momento é manifestar-nos
contra o avanço do obscurantismo, da ofensiva reacionária contra os direitos
sociais tão duramente conquistados pelos trabalhadores; contra a tentativa de
acabar com a previdência social; contra a escalada antidemocrática e as
perseguições políticas. Nosso dever cívico, neste momento, é dar à nossa voz
outra música, outro tom: o da luta por preservar a liberdade, a soberania
nacional e os valores republicanos.
O que esperar de um presidente que terá como Ministro da
Justiça o juiz que condenou seu adversário político num processo repleto de
suspeição?
O que esperar de um presidente que deseja criminalizar os
movimentos sociais e a oposição política?
O que esperar de um presidente que reverencia Donald Trump,
uma caricatura de estadista, um sujeito odiado e ridicularizado mundo afora e
que só pensa em seus próprios interesses, ou, no máximo, nos interesses de seu
país?
O que esperar de um governo que tem como gurus o astrólogo
Olavo de Carvalho e pessoas que se dizem religiosas, mas cujas ideias
econômicas, políticas, culturais, sociais, seguem o deus mercado, os princípios
do ultraliberalismo entreguista e privatizante, o autoritarismo, o
obscurantismo e uma moral hipócrita e medieval no campo da ética, da família e
da religião?
O que esperar de um presidente que diz que os índios,
verdadeiros protetores da floresta, devem viver em nossa sociedade, simples
pretexto para expulsá-los das áreas demarcadas para comercializar as riquezas
minerais e utilizar o solo das terras indígenas?
O que esperar de um
presidente que faz apologia à tortura e quer exterminar todo e qualquer
opositor?
O que esperar de um presidente que colocou em seu programa de
governo a eliminação da teoria de Paulo Freire, educador, teórico, intelectual,
respeitado no mundo todo e a implementação da “Escola sem Partido”, uma
aberração alienante?
Por que governos elitistas e autoritários querem o fim de
Paulo Freire? Por que este os incomoda tanto? Por que ele é tão “perigoso”?
Será porque este teórico quer a emancipação política, social e cultural das
classes sociais oprimidas e excluídas? Será porque ele afirma que a
neutralidade não existe? O professor, na sala de aula, a todo momento, está
fazendo escolhas, posicionando-se, escolhendo textos, metodologias,
estratégias, avaliações que não podem e não devem ser tratados com neutralidade.
Há como ficar neutro quando o assunto é nazismo, fascismo, ditadura militar,
escravidão e muitos outros temas em pauta na mídia, na História, ou em outras
áreas do conhecimento? Há dois lados a serem mostrados? Mostraremos com o mesmo
olhar o ponto de vista do torturador e do torturado? Há consensos humanitários
que, dependendo da situação, não podem ser jamais ignorados ou admitidos, sem
levar-nos a retrocessos históricos irrecuperáveis.
Educar é libertar e libertar-se, conscientizar e
conscientizar-se, humanizar e humanizar-se e o espaço educativo deve ser o
local em que se possibilitam a socialização, o diálogo, a aprendizagem. Sendo
assim, como confiar em um presidente que quer que o ensino seja a distância, no
fundamental e médio, através do youtube, retirando o aluno do convívio com seus
pares e da intermediação dos professores, eliminando debates, trocas de ideias,
conflitos? Isto é um atentado contra a democracia, contra o desenvolvimento
humano. O aluno passa a ser visto como um robô, um ser não pensante, um
receptáculo vazio a ser preenchido por informações “neutras”.
“É preciso pensar mais do que nunca sobre uma libertação das
injustiças históricas, políticas, econômicas e sociais, a que muitos povos,
muitos seres humanos foram e são submetidos até hoje. As pessoas precisam lutar
pela recuperação da humanidade”. Sendo assim, mais do que nunca precisamos
ouvir o grito dos oprimidos e juntos lutarmos contra as transgressões éticas a
que estão cada vez mais submetidos. Este novo governo contará com uma oposição
atenta, firme e propositiva.
Juvenal de Aguiar Penteado - diretor
estadual da Apeoesp e vice-presidente do PT de Marília.
Maria Elvira Nóbrega Zelante -
professora aposentada.
Mariana C. Broens – professora de
filosofia da Unesp.
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