7 milhões de empregos e reativação da economia
Plano apresentado a Lula prevê criação de 7 milhões de empregos e
reativação da economia
Plano prevê investimento em obras e estímulo ao consumo para alavancar o
crescimento. Reforma solidária propõe corrigir distorções na cobrança de
impostos,
São
Paulo – Economistas do Núcleo de Acompanhamento de Políticas Públicas
(NAPP) do PT apresentaram nesta quinta-feira (12) ao ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva duas propostas para a combater a onda de desemprego e
estabelecer um sistema de cobranças de impostos mais justo, para fazer o
país voltar a crescer. Lula disse que
“o povo pobre está pagando um preço muito alto” pelas escolhas da equipe
econômica do governo Bolsonaro, e defendeu a criação de empregos decentes, o
direito ao consumo e a políticas sociais de saúde e educação.
O Plano Emergencial de Emprego e
Renda pretende criar 7 milhões de empregos no curto e médio
prazos. Trata-se de um conjunto de ações que envolve a contratação direta de
trabalhadores pelo poder público, a reativação do investimento em obras de
infraestrutura e do programa Minha Casa Minha Vida, além de medidas para
estimular o consumo. Já a proposta de Reforma Tributária Justa e
Solidária prevê a redução da taxação sobre o consumo, que pesa mais no bolso
dos mais pobres, e um aumento de impostos sobre a renda e o patrimônio, que
afetam os mais ricos.
O diagnóstico apresentado pelos economistas é de que mesmo as
projeções otimistas do governo e do mercado, que apostam em taxa de crescimento
de 2,0% a 2,5%, em 2020, implicarão em ritmo lento que fará com que o PIB volte
aos patamares anteriores à crise iniciada em 2014 apenas no terceiro trimestre
de 2022. Além do desemprego, a precarização do mercado de trabalho, o
congelamento dos gastos do governo e a ameaça de choques externos impedem um
crescimento mais duradouro.
Emprego já
A primeira etapa do Plano
Emergencial é o programa Emprego Já, com a contratação direta de até 370 mil
trabalhadores por estados e prefeituras para atuar em obras de melhoria urbana
e zeladoria. Conjuntamente, o plano prevê investimento público de cerca de R$
40 bilhões para a conclusão de grandes obras de infraestrutura, que atrairiam
montante equivalente da iniciativa privada, suficientes para criar mais de 2
milhões de empregos diretos. Outros R$ 6 bilhões seriam destinados à reativação
do Minha Casa Minha Vida,
que somaria cerca de 160 mil postos de trabalho.
Entre as medidas de estímulo ao consumo, o programa prevê
aumento real de 5% no salário mínimo, além da retomada da política da
valorização, que vigorou até 2019. A medida beneficiaria cerca de 48 milhões de
pessoas. Estão previstas ainda a expansão do Bolsa Família, um programa de
refinanciamento das dívidas das famílias e a correção da tabela do Imposto de
Renda.
Os recursos viriam do Orçamento da União, do Tesouro, do BNDES e
da emissão de títulos da dívida, e teriam “impacto fiscal” mínimo, segundo o
economista Ricardo Carneiro, professor da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). “Temos um programa com começo, meio e fim que vai atender a urgência
da população brasileira, que é a questão do desemprego”, afirmou, durante o
encontro com Lula.
Reforma solidária
Segundo o economista Eduardo
Fagnani, também da Unicamp, as duas propostas de reforma tributária que
tramitam hoje no Congresso Nacional tratam apenas da “simplificação” dos
impostos, mas não tratam da questão da “regressividade” do sistema tributário
brasileiro, que taxa mais quem ganha menos. Ele diz que essa é uma das causas
da desigualdade no Brasil, o sétimo mais desigual do
mundo, segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud) divulgados nesta semana.
A proposta de Reforma Tributária Justa
e Solidária, apresentada na forma de emenda substitutiva global à Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) 45 (uma das duas propostas em tramitação),
“simplifica a tributação e amplia a progressividade”, eleva a tributação sobre
renda e patrimônio e reduzindo sobre consumo e a folha de pagamento. Também
preserva as fontes de financiamento da educação e da seguridade social, que é o
principal mecanismo da redução da desigualdade de renda no Brasil, segundo
Fagnani.
“Não é verdade que o Brasil tem a maior carga tributária do
mundo, mas é verdade que somos campeões mundiais na tributação sobre o consumo,
que representa quase 50% do total arrecadado, enquanto que a média dos países
da OCDE é 32%, e nos Estados Unidos, 17%. O problema da tributação sobre o
consumo é que penaliza o pobre, que consume tudo o que ganha”, explicou.
Diagnósticos
Para o economista Guilherme Mello (Unicamp), o processo de
recuperação econômica alardeado pelo governo Bolsonaro mantém os níveis de
baixo crescimento registrados durante o governo Temer e se parecem mais com “um
voo de galinha”. “Mantido o ritmo atual, a gente só vai retomar o PIB que
tínhamos em 2014 no terceiro trimestre de 2022”, afirmou.
A economista Esther Dweck, da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ), disse que o país enfrenta ainda uma armadilha fiscal que
contribui para a lenta recuperação da economia, em função do teto de gastos
implementado no governo anterior. “Infelizmente parte disso é porque o governo
está deixando de fazer o seu papel para acelerar o crescimento”.
Paulo Nogueira Batista Jr, ex-vice-presidente do Novo Banco de
Desenvolvimento – o Banco dos Brics – chamou atenções para o retorno da
vulnerabilidade externa, devido à falta de comprometimento do atual governo com
a manutenção dos níveis das reservas cambiais. Ele também chamou a atenção para
acordos internacionais que limitam a capacidade de atuação dos países para
desenvolverem políticas de desenvolvimento industrial e de comércio, como o
acordo entre o Mercosul e a União Europeia.
Pedro Rossi, também da Unicamp, frisou que o atual contexto
internacional é de “desglobalização”. Nesse contexto, não haverá “demanda
externa” que alavanque o desenvolvimento brasileiro no próximo período. A
maioria dos países têm adotado posturas mais protecionistas, enquanto o governo
Bolsonaro pretende realizar uma abertura econômica e financeira de maneira
“unilateral”, sem exigir contrapartidas.
O debate contou ainda com a participação do ex-prefeito de São
Paulo Fernando Haddad, do ex-ministro da Educação Aloizio Mercadante, da
deputada federal Gleisi Hoffman (PR), presidenta do PT, do deputado federal
Afonso Florence (PT-BA) e dos economistas André Calixtre e Marcio
Percival.
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