Direita, volver: fake news e manipulação da opinião pública.



Publicado no Jornal da Manhã de Marília de 15/11/2018.
Direita, volver: fake news e manipulação da opinião pública.
Durante a campanha eleitoral, as forças progressistas estavam  empenhadas em compartilhar com a população propostas de governo engajadas com princípios fundamentais da esquerda democrática: busca por justiça social, defesa da dignidade da pessoa, preservação do meio ambiente, respeito à pluralidade étnica, de gênero, de visão de mundo, entre outros. Mas a luta a favor desses princípios foi encoberta por uma avalanche incontrolável e disparatada de fake news nas redes sociais, muitas delas criadas por empresas, contratadas ilegalmente, especializadas em táticas de desinformação.
Na medida em que sua candidatura avançava, centenas de milhões de notícias falsas foram divulgadas contra o candidato petista. As notícias eram encaminhadas inclusive para pessoas vulneráveis, carentes de instrumentos que lhes permitissem distinguir o verdadeiro do falso.
Certamente foi a campanha mais suja da história brasileira, manchada por milhões de crimes eleitorais. Foi uma campanha que, por imitação à campanha de Donald Trump nos Estados Unidos, poderá provocar uma tragédia sem precedentes na história da nossa frágil democracia. Infelizmente, segundo reportagem da Folha de São Paulo, na edição de 18/10/2018, as notícias falsas foram patrocinadas por grandes empresários com o objetivo de favorecer campanhas de candidatos da direita e fragilizar a relação entre o trabalho e o capital. Outros crimes eleitorais também foram praticados, como a colocação de imensos outdoors em entradas de acesso em muitas cidades e a disseminação massiva de mensagem de ódio contra minorias.
Essas práticas vieram a coroar o processo sistemático de demonização do Partido dos Trabalhadores iniciado pela grande mídia há mais de 10 anos, quando os efeitos benéficos  das políticas públicas implementadas pelos governos petistas começaram a se  fazer sentir e irritaram a elite predatória acostumada a ser a única favorecida. O fato de que, graças aos governos petistas e pela primeira vez no País, as classes populares tiveram acesso a bens culturais e a uma vida mais digna foi relegado ao esquecimento por apelos moralistas e calúnias repetidas até a exaustão.
Infelizmente, a sociedade brasileira ainda se mostra indefesa diante de práticas de clientelismo eleitoral, mas, para além dessas práticas, ninguém, sequer os Tribunais Eleitorais, estava preparado para lidar com a utilização profissional das mídias digitais como instrumento de manipulação da opinião pública na escala em que ocorreu.
Em especial, os objetivos dos projetos político-econômicos da direita e da esquerda democrática, respectivamente, não ficaram claros para a população. O projeto da direita é moldado de acordo com os interesses dos donos do capital –  banqueiros, multinacionais, grande indústria e agronegócio. O objetivo deles é claro: obter o maior lucro possível, não importando como.  Para tentar convencer a população, os defensores da direita dizem que se os empresários, banqueiros e grandes fazendeiros lucrarem, vai ter mais emprego para todos.  Mas será que eles deixaram de lucrar em algum momento?  Um dado divulgado no ano passado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que não: no Brasil, 10% da população (ou seja pouco mais de 200.000 pessoas) possuem 43,3 % da renda nacional, quase a metade. Os outros 180.000.000 dividem os restantes 56,7 % da renda do país.
Nossas interrogações: quem será beneficiado pelas ações ainda vagamente esboçadas pelo presidente eleito? Quem será prejudicado com a extinção, ou incorporação por outras pastas, dos ministérios responsáveis por políticas sociais? Quem vai lucrar com o fim do SUS e sua substituição por planos de saúde, obviamente pagos? Quem deixará de estudar com o fim de cotas sociais nas universidades públicas ou de programas como o PROUNI e FIES? Quem garante que o modelo de capitalização proposto para a nova reforma previdenciária não culminará como os montepios nos anos 1970 e 1980, em que os trabalhadores, depois de pagarem planos de previdência privada durante 20 ou 30 anos, ficaram desamparados? O que ocorrerá com a implantação ensandecida de novas políticas educacionais?
Não temos como responder estas interrogações, apenas podemos continuar a lutar em defesa dos ideais democráticos de igualdade social e  justiça.
Juvenal de Aguiar Penteado Neto – Diretor Estadual da APEOESP e Vice Presidente do PT de Marília.
Maria Elvira Nóbrega Zelante – Professora Aposentada
Mariana C. Broens – Professora da UNESP


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