Somos efetivamente cidadãos ou “idiotas”, no sentido grego?
Pulicado no Jornal da Manhã do dia 27/05/2018
Somos efetivamente cidadãos ou “idiotas”, no sentido grego?
Os historiadores
ressaltam que na cidade de Atenas, na qual nasceu a democracia há mais de dois
mil anos, os próprios cidadãos se reuniam em assembleia para decidir os rumos
da vida pública. Naquela época, a cidadania em Atenas era um direito de poucos
que se exercia diretamente e que, em geral, era altamente valorizado, por se
entender a relevância de participar dos processos decisórios que influenciariam
a vida de todos. Mas mesmo naquela época já havia quem abdicasse desse direito.
Esse cidadão era chamado pejorativamente de idhiótis,
isto é, de individualista que se afastava das responsabilidades inerentes à
vida pública e vivia à margem dos debates e dos processos de tomada de decisão.
No modelo
democrático adotado em nosso país, a democracia não mais se exerce diretamente.
Atualmente precisamos eleger representantes que legislem, isto é, que criem ou
alterem as normas reguladoras da vida social, e que atuem como
responsáveis pelo governo, executando as normas referentes à
ordenação da vida pública. Tais são as atribuições básicas dos poderes
Executivo (exercido por Presidentes, Governadores e Prefeitos) e Legislativo
(exercido por Senadores, Deputados Federais, Deputados Estaduais e Vereadores
Municipais). Já aqueles que zelam (ou deveriam zelar) pelo cumprimento da lei
no Estado de Direito constituem o Poder Judiciário (exercido por Magistrados,
auxiliados pelo Ministério Público).
A diferença entre
os componentes dos três poderes republicanos em nosso país é que os membros do
Legislativo e do Executivo estão submetidos a processos eleitorais regulares,
ocasiões em que sua atuação pública pode ser avaliada pela população. Mas os
membros do Poder Judiciário ingressam na carreira por concurso e possuem cargos
vitalícios, não necessitando, consequentemente, prestar contas à sociedade pela
qualidade do trabalho que realizam.
Embora na
Constituição Federal esteja subjacente o ideário republicano de equilíbrio e
autonomia dos três poderes, segundo o qual o poder emana do povo e em seu nome
deve ser exercido, depois do golpe de Estado de 2016 a maioria das instâncias
públicas tem exercido seu poder à revelia dos interesses da população ou mesmo
contra eles, com honrosas, porém poucas, exceções.
Em dois anos os
golpistas responsáveis pela usurpação do poder público quase conseguiram
destruir nosso país. Leis que defendiam os direitos civis, o investimento
público na saúde e na educação, as empresas nacionais engajadas no processo
produtivo e, especialmente, as leis que garantiam a soberania foram alteradas
ou simplesmente revogadas. Estamos, agora, em mãos dos interesses espúrios do
capital financeiro e das grandes corporações multinacionais.
Nosso país, com os
governos petistas, chegou a ser a 5ª potência econômica do mundo, com uma gama
enorme de proteção social e apoio para o crescimento dos brasileiros, tanto dos
trabalhadores quanto dos pequenos e médios empresários engajados no sistema
produtivo. Mas alguns programas sociais e políticas internacionais (como a
participação no MERCOSUL e nos BRICS) feriam os interesses econômicos
imperialistas estadunidenses e europeus. Por isso, para agradar seus
patrocinadores, os promotores e beneficiários do Golpe de 2016 acabaram com as
estruturas básicas de nosso mercado consumidor, destruindo a classe média
emergente.
Os golpistas,
incluindo entre eles simpatizantes da operação LAVA-JATO e das várias reformas
contra os direitos sociais, são corresponsáveis por aproximadamente quatorze
milhões de desempregados. No momento, o ambiente brasileiro é de crise, uma
crise em grande parte provocada pelo golpe e acirrada irresponsavelmente pelas
grandes mídias.
Os índices
econômicos e sociais são desesperadores. Nosso país se torna um enorme
caldeirão de descontentamento popular em ebulição por incompetência de um
governo notadamente corrupto, além de golpista. O único candidato que pode negociar
um pacto social e anular as medidas que comprometeram os direitos civis e o
crescimento econômico está preso, vítima de atos ilegais de membros do
judiciário, único poder não submetido à
avaliação popular porque a elite golpista não quer sofrer sua quinta derrota
eleitoral.
O presidente Lula
é um preso político. A grande maioria dos brasileiros já percebeu a montagem da
farsa que foi sua condenação, na qual, inclusive, reportagens veiculadas pela
Rede Globo de televisão sobre o malfadado apartamento triplex assumiram força
probatória.
Diante de tudo
isto, cabe perguntar: somos cidadãos corresponsáveis pela vida pública de nosso
país ou “idiotas” individualistas que fugimos de nossas responsabilidades
políticas? A população que vestiu verde-amarelo apoiando o golpe e a subida do
Temer ao poder está arrependida? Já percebeu que foi massa de manobra do pato
amarelo da FIESP? Já perdeu o emprego? Não será a hora de defender a
candidatura do Presidente Lula para devolver o Brasil aos Brasileiros?
Juvenal de Aguiar Penteado Neto
Diretor da APEOESP/Marília e Vice-Presidente do Partido dos
Trabalhadores/Marília
Maria Elvira Nóbrega Zelante – Professora do Estado de SP
Mariana C. Broens
– Professora da UNESP/Marília
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