Linhas editoriais e as dificuldades da Democracia
Linhas editoriais e as dificuldades
da Democracia
Implantar uma democracia, em que a organização social espelhe
convicções e práticas efetivamente democráticas, é uma conquista que a
humanidade ainda não teve a oportunidade de vivenciar. E isto não apenas pelas
desigualdades sociais e econômicas de todo tipo que infectam a sociedade como
uma doença crônica degenerativa, mesmo em democracias ditas de “primeiro
mundo”, e impedem a efetiva implantação de estruturas democráticas plenas.
Não menos difícil para a implantação e resguardo do Estado
de Direito é a promoção dos princípios democráticos, sua efetiva incorporação e
expressão nas práticas cotidianas dos cidadãos. É especialmente difícil que, no
dia-a-dia de nossa convivência social, respeitemos com sinceridade a opinião
discordante e o direito fundamental de expressá-la e defendê-la.
O discurso fundamentalista, o suposto combate à corrupção,
a atribuição de justiça seletiva, a criminalização da perspectiva política de
esquerda são algumas das estratégias que têm sido adotadas para, de forma
anti-democrática, desqualificar posições discordantes a políticas promovidas
pelo Governo federal. Entendemos que o objetivo de tais práticas é impor um
projeto político contrário aos interesses nacionais e aos da maioria da
população.
No caso de jornais locais, embora vários tenham publicado
artigos de diferentes espectros ideológicos, pelo que somos gratos, sua linha
editorial têm assumido nos últimos tempos um discurso monocromático (em vários
sentidos!). Os Editoriais têm defendido os interesses dos poderosos, das elites
predatórias entreguistas, alinhados que estão com a lógica do capital
financeiro.
Ao invés de também preocuparem-se com os interesses dos
assalariados, dos empresários locais, dos idosos, das crianças e adolescentes, enfim,
com a maioria dos habitantes de nosso município, a linha editorial dos jornais
locais passou a assumir a ideologia do sistema financeiro internacional. Os editoriais
têm defendido os interesses dos poderosos quando se trata, por exemplo, do
debate nacional sobre a reforma da previdência proposta pelo Governo ou das
manifestações públicas realizadas em Marília em 14/06 para combatê-la, com
centenas de participantes, que não foram sequer noticiadas. Já um ato chamado
por movimentos conservadores com poucas dezenas de participantes receberam
ampla cobertura nos meios de comunicação marilienses.
O apreço democrático pelo direito à discordância não
exclui o discurso crítico. Ao contrário, críticas são essenciais para o próprio
aperfeiçoamento das instituições democráticas.
Mas ultimamente, em nossa democracia sequer incipiente,
uma confusão doentia tem se fortalecido: em nome do direito à crítica e à
liberdade de expressão, encontram espaço, e veementes praticantes e apoiadores,
os discursos abusivos, preconceituosos, agressivos e, frequentemente,
injuriosos. Insultar, atribuir falsamente responsabilidade por ilícitos,
ofender e destruir reputações têm se tornado práticas comuns que, lastimamos
dizer, ecoam positivamente em vários meios de comunicação.
Esperamos que as linhas editoriais dos meios de
comunicação de nossa cidade não sucumbam à tentação discursiva
anti-democrática, evitem abusos, deem voz também para os interesses da maioria,
preservando os pilares básicos do Estado Democrático de Direito que precisamos juntos
construir. Afinal, em uma democracia, o respeito mútuo não é facultativo.
Professor Juvenal de Aguiar – Diretor Estadual da APEOESP,
Vice-Presidente do Partido dos Trabalhadores de Marília e autor de vários
livros
Maria Elvira Nóbrega Zelante - Professora de Português e
Literatura
Mariana C. Broens - Professora da UNESP
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