Sobre o PT e outros demônios

Sobre o PT e outros demônios
Carlos D’Incao
            Um grande demônio atormenta o Brasil, o demônio do PT. Quem recentemente defendeu a Democracia, o Estado de Direito e o Presidencialismo e não foi, por esse pecado, acusado de ser petista? Quem recentemente questionou o processo ilegal de impeachment, os abusos do Judiciário e a cobertura tendenciosa da grande mídia sobre as atuais irregularidades do poder público e que, por essas heresias, não foi histericamente sentenciado à fogueira por uma horda enfurecida, anti-Dilma e anti-PT?
            Dessa conjuntura podemos concluir dois fatos: 1- O PT é uma força política que os tradicionais “donos do poder” (isto é, os grandes meios de comunicação, a Fiesp, as velhas oligarquias em conluio com as potências centrais da Zona do Euro e os EUA) querem eliminar de forma impiedosa e - se possível - sem deixar qualquer vestígio; 2 - É chegada a hora dos setores progressistas desse país se unirem em uma verdadeira cruzada contra as manipulações e as mentiras perpetradas contra esse partido, independentemente de serem filiados ou não ao mesmo. Pois, nesse momento, esse ataque ao PT é a via encontrada pelos caquéticos setores reacionários para exterminar a República e a Democracia de nosso país.

             Vamos nos aprofundar na questão. O grande problema do demônio petista foi, sem perceber, despertar outros demônios ainda piores. O primeiro e mais óbvio é o “demônio Lula”. Por 500 anos o Brasil foi governado por uma elite branca e culta que, desde D. Manuel, nunca viu qualquer contradição em se beneficiar de forma privada daquilo que era público.
              Depois de 501 anos, o povo ousou votar e eleger um homem de origem pobre e sem elevada escolaridade. Surpresa: mesmo governando nos estreitos limites de um sistema já corrompido, conseguiu ser o presidente que mais auxiliou os pobres, fez o Brasil crescer e, por isso, se tornou o mais popular de todos os presidentes da História nacional.
               Essa grande tragédia deve ser punida de forma exemplar. Pouco importa os apartamentos de FHC em São Paulo, Paris, Nova York e todas as suas amantes mantidas e sustentadas em sigilo na Europa; pouco importa todos os ex-presidentes que acumularam fortunas, fazendas e  firmaram verdadeiros clãs em seus Estados...  O que interessa é o pedalinho do Lula no sítio de Atibaia e um modesto apartamento no Guarujá que não está e nunca esteve em seu nome. Para esses “gravíssimos” indícios, os grandes poderes exigem condução coercitiva e pedido de prisão  preventiva para esse maldito personagem.
               O outro demônio trazido pelo PT veio do extremo-oriente. Veio da China. Desde o primeiro mandato de Lula, os EUA e a Europa deixaram de ser os maiores parceiros econômicos do Brasil. Além disso, o Brasil ousou formar um novo grupo econômico, os BRICS. Isso significa um país grande demais para ser controlado pelos seus tradicionais senhores do exterior.
                Os EUA querem realinhar a América Latina como seu tradicional quintal. Caso seja necessário que se prenda altos executivos de empreiteiras nacionais que insistem em vencer no exterior as concorrências com as empreiteiras norte-americanas, suecas e canadenses (como é o caso da Odebrecht) que assim seja. O PT permitiu o Brasil crescer muito. Está na hora de adormecer esse gigante. Por fim, o PT despertou o demônio do princípio do “um Homem, um voto”. Por mais que os grandes meios de comunicação façam um papel absolutamente tendencioso, seus institutos de pesquisa mintam de forma descarada (com erros para além de 15% em suas projeções de voto) e os poderes econômicos pressionem os trabalhadores a votarem em seus candidatos... o povo de forma desobediente insiste - em sua maioria - a lhes negar a vitória eleitoral.
                 O demônio do Presidencialismo precisa ser derrubado. Um novo país surgiu nesses últimos 13 anos, um país onde pessoas comuns começaram a ter acesso a bens supérfluos, a financiar casas a juros baixo e milhares de empresários passaram a ter acesso a crédito, pondo em cheque os antigos poderes secularmente encastelados. No fim, esse país não quer retroagir, ao contrário quer avançar. Os setores mais reacionários, com singular hipocrisia, querem cassar a presidente Dilma. Ironicamente representados por um congresso e por um senado que se caracterizam como os mais corruptos de nossa História, sentem-se no direito de abreviar um mandato referendado por mais de 54 milhões de votos.
                  Se há corrupção em nosso país, com certeza não é o PT seu criador e nem seu principal protagonista - como os documentos da Lavajato comprovam. Os que querem derrubar a Dilma não possuem nenhum projeto para o Brasil senão o de exorcizar os demônios que foram criados nos últimos anos: o demônio de um Brasil grande e - sobretudo - o demônio de um povo que conquistou, após décadas de luta, a soberania de escolher de forma direta quem será seu próximo presidente.
                  Os setores progressistas não possuem o direito de se acovardar nesse momento. Isso é o que está em jogo. O resto é teatro. Um teatro mal encenado e de baixa qualidade... Se um patriota em tempos de paz é fácil. O difícil é ser patriota em tempos de crise. E a História julgará aqueles que nesse momento se levantaram e combateram a falácia do “Fora PT” e do “Fora Dilma”.
O autor é professor de história/USP e diretor do Instituto de Ensino D’Incao


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