Lá vem o Brasil descendo a Ladeira
Artigo da Professora Maria Elvira, publicado na
página 10, do Jornal da Manhã de hoje, dia 19/04. É um texto longo, mas é muito
esclarecedor. Peço para compartilhar.
“Lá vem o Brasil descendo a ladeira”
Sem constrangimentos, sem consciência crítica, sem
remorsos, em 2018, cidadãos(ãs) apertaram o 17 e elegeram Bolsonaro, a
despeito de sua gritante e explícita desumanidade. Antes das eleições,
circulavam pelas redes sociais vídeos, textos, notícias expondo sua
brutalidade, sua ignorância, obscurantismo e total despreparo para a
governança. Nestes meios de comunicação, escancarava-se, com clareza, seu
racismo, homofobia, misoginia, sua proximidade com as milícias, com a tortura,
seu repúdio aos pobres e seu protecionismo aos muito ricos. Seu flerte com o
fascismo estava presente nas ameaças a todos que se contrapunham à sua
ideologia. Bastava discordar de suas ideias, para receber uma chuva de ofensas,
impropérios, perseguição, ameaças de morte. Mas nada disso incomodou os
eleitores da barbárie.
Assim que chegou ao governo, Bolsonaro deu
continuidade ao projeto de desmonte de nosso país, iniciado por Michel Temer,
após o golpe de 2016. Com o mote “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”
foi fazendo tudo ao contrário do que a palavra de ordem sugeria: pregava a
antirreligião com sua pulsão de morte latente, seu discurso provocante e
desarmônico, e a semiótica da violência no gesto constante de uma arma
apontando para o outro; por outro lado, mostrando que o Brasil nem de longe
fazia parte de suas prioridades, Bolsonaro instigava seus seguidores a usar
símbolos nacionais, cantar o hino, mas, concomitantemente, fazia reverência à
bandeira americana e entregava o Brasil ao capital estrangeiro. Bolsonaro, como
se sabe, é um produto de um golpe jurídico, parlamentar, midiático, militar que
teve como objetivo apagar o protagonismo do Brasil na América do Sul e no mundo
com sua política externa altiva e ativa, promover a destruição da indústria
nacional que começou a incomodar a americana, destruir a esquerda,
principalmente o maior partido da América do Sul, o PT; tirar direitos
trabalhistas e concentrar ainda mais a riqueza nas mãos de poucos.
Assim foi o primeiro ano de governo: um
trem–fantasma que a cada parada provocava um susto! Foi vazamento de óleo nas
praias do Nordeste; fogo na Amazônia, Brumadinho, assassinatos de líderes
indígenas, do MST e de outros movimentos populares, estrangulamento de
sindicatos. Em todos os casos, Bolsonaro fingia-se de morto, como se nada
tivesse com o caso, ou punha a culpa em outrem e nada fazia para resolver o
problema. Não havia um dia em que não éramos surpreendidos(as) por notícias
turbulentas que desequilibravam a “estrutura emocional” do Brasil ou por
declarações estapafúrdias do presidente e de seus ministros contra jornalistas,
cientistas, professores, funcionários públicos, ambientalistas, deixando a
população insegura, cabisbaixa ou irracionalmente impregnada de ódio. Enquanto
estes discursos, aparentemente desconexos e violentos, iam acontecendo, Guedes,
o economista, ia tratando de favorecer o “mercado”, o sistema financeiro,
atacando o Estado, as estatais, os beneficiários de programas sociais,
políticas públicas, pobres, desamparados. Assim o Brasil, que já ia mal das
pernas desde 2015, quando Eduardo Cunha e Aécio Neves começaram a boicotar o
governo Dilma, passou a despencar ladeira abaixo: milhões de desempregados
foram surgindo, assim como moradores em situação de rua, ambulantes,
trabalhadores precarizados, lojas com portas fechadas, indústrias paradas,
casas com placas de “Vende-se”, ou “Aluga-se” e o PIB decaindo.
Neste ambiente de terra arrasada veio à tragédia
maior: o mundo foi surpreendido por uma pandemia.
Diante deste pandemônio, Bolsonaro surge como a
potencialização da tragédia: deixou de ser somente um problema econômico,
político e social para ser também um problema de saúde pública. Enquanto
o mundo segue as orientações da Organização Mundial da Saúde e faz isolamento
para conter a disseminação do vírus, Bolsonaro segue na contramão da Ciência,
do bom senso, da proteção à vida, atacando o distanciamento social, instigando
as pessoas a irem às ruas para trabalhar. Lançou a dicotomia falaciosa de que o
brasileiro deveria escolher entre morrer de fome ou morrer de vírus, como
se o Estado não tivesse a obrigação de permitir que cada cidadão fique em sua
casa com a garantia de uma renda mínima ou uma verba para proteger sua empresa
e seus empregados. Assim, com este posicionamento genocida, o presidente tem promovido
a discórdia, a irreverência e o caos, provocando muita apreensão e o prenúncio
de uma tragédia sem precedentes aqui no Brasil.
Não temos bola de cristal para saber o que
exatamente vai ocorrer, mas muitas evidências saltam aos olhos e a principal
delas é que a política neoliberal mostrou seu profundo descompasso com a
proteção à vida, escancarando sua fragilidade.
Daqui para frente uma nova ordem social deverá ser
criada para que a reconstrução de um país aconteça. Basta de austeridade, de
Estado mínimo e do discurso de que a mão invisível do mercado tudo ajeita. Não!
Isso é mentira. A despeito de tentativas de destruição do SUS, por exemplo,
desde o governo Temer, com a aprovação da PEC 95 que limitou os gastos públicos
por 20 anos, aniquilando programas de saúde pública bem sucedidos, cortando
compra de material cirúrgico, insumos hospitalares, este sistema de Saúde
Universal tem sido a salvação “da lavoura”. Não fosse o SUS a tragédia seria
muito maior que a dos EUA, país que não possui um sistema único e está sofrendo
as consequências.
Nesta nova ordem que virá, vai ser necessário
valorizar a Ciência, a Educação e a Saúde pública de qualidade, o conhecimento
tecnológico, as Universidades públicas, o bem-estar social, as pesquisas, as
escolas, os hospitais, as bibliotecas, a cultura, a arte. Tudo que vinha sendo
desprezado no desgoverno Bolsonaro. Mas mesmo cientes de que a saída é
esta, temos observado dois comportamentos opostos frente à tragédia: enquanto
uns são solidários, têm consciência de seu papel social, como a dona do
Magazine Luísa, por exemplo, que está preservando empregos, há outros com
comportamento profundamente egoísta, ganancioso, cruel: como o de certas
igrejas que, para abocanhar o dízimo, querem que elas fiquem abertas, ou como o
do dono do Madero e da Havan que só pensam em demissão de empregados,
deixando-os expostos à precariedade econômica.
Estamos vivendo um momento crítico com a
possibilidade de muita destruição e morte, mas não podemos perder a esperança
de um mundo melhor. É momento de decidirmos que “Brasil queremos reconstruir”,
assim que a guerra contra o vírus acabar: o país da vida com dignidade para
todos e todas ou o país do ódio e da morte?
Prof. Juvenal de Aguiar - Diretor Estadual da
APEOESP e Maria Elvira Nóbrega Zelante – professora aposentada, militantes do
Partido dos Trabalhadores e Membros da Executiva Municipal de Marília.
Cheio de ranço e mentiras como tudo do PT
ResponderExcluirArgumente melhor. De exemplos, sr. Neuber. O texto está bem escrito e bem fundamentado.
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