O GRITO DA ESQUERDA



O artigo abaixo é uma verdadeira aula sobre política. É longo, mas necessário por ser formativo. Peço para compartilhar, debater com os amigos e com a família, tendo em vista que as mensagens mentirosas contra o PT continuam sendo disparadas pelo “comitê do ódio” e por seus aliados.
O GRITO DA ESQUERDA – Artigo publicado na página 23 do JM de hoje, 10/05/2020.
Enquanto a direita é ciceroneada para entrar nas redes sociais, com imagens atraentes e simpáticas, tal qual debutantes de antigos bailes que, com pompa e elegância, eram apresentadas à sociedade, a esquerda só vence no grito. Para entendermos melhor, é só compararmos as manifestações para o impeachment de Dilma, - ciceroneadas pela Globo que fazia chamadas o dia todo, atraindo a população para as ruas - , com as passeatas da esquerda, que só têm visibilidade, quando criam um fato político. Enquanto a direita saia às ruas aos domingos, acompanhada de babás de uniforme, empurrando carrinhos de bebê, com a proteção da polícia e a cobertura da grande mídia; a esquerda precisava e ainda precisa fazer suas manifestações durante a semana, ao término da jornada de trabalho de muitos brasileiros, quando milhões estão nas ruas voltando para casa, e repentinamente percebem que o trânsito parou, as buzinas começam a esganiçar frenéticas e, de longe, veem pessoas de roupas e bandeiras vermelhas (cor da paixão e do sangue derramado nas lutas), em cima de um caminhão fazendo um ato, discursando, aplaudindo, protestando. Neste momento uma raiva surda invade o coração de quem quer chegar a sua casa e não pode, e injustamente xingam quem justamente está do seu lado. Alguns só vão notar o equívoco, quando ligam a tevê e percebem que estes manifestantes falavam sua língua e que a mídia só publicou o fato, porque os participantes do ato criaram um tumulto alterando a rotina de muitos. Assim, usando de subterfúgios, a esquerda vira notícia. Fossem eles sair aos domingos que nada seria publicado, pois nenhum transtorno causariam. Trânsito tumultuado, buzinaço, policiais irados criam um caldo político que demanda divulgação. Assim no “grito” a esquerda aparece. Não há complacência, não há colaboração desta mídia venal que tem um só lado.
No dia 26 de abril de 2020, a UOL denúncia, por intermédio do jornalista Maurício Stycer,  a censura da Globo ao PT, Lula, Haddad e Dilma. Eles se tornaram invisíveis para a grande mídia. É só assistir à Globo e observar que a maioria dos entrevistados é da direita e da extrema direita e raríssimamente aparece alguém da esquerda opinando. Mas houve uma época em que o PT não saia da mídia. Era a época em que se articulava o golpe e só se falava em corrupção do PT, como se este partido fosse o mal do Brasil.
Nesta época de cheiro de golpe no ar, em meados de 2015, um grupo de Marília resolveu se unir e montar um comitê denominado “Comitê contra o golpe, pela Democracia”. Este grupo está unido até hoje e, “com seus gritos”, começou a alertar a população sobre o que estaria por vir caso o golpe contra Dilma se concretizasse. Nossa primeira palavra de ordem foi “Não vai ter golpe, vai ter luta!” E assim começou nossa história.
Em nossa primeira reunião apareceram muitas pessoas: cidadãos comuns, representantes de sindicatos, de coletivos, de partidos políticos, de movimentos sociais formando um caldeirão de diversidade incrível. Embora a maioria fosse de esquerda, logo percebemos diferenças vitais entre a gente. Alguns achavam que Dilma merecia o impeachment e outros não. Mas todos temiam as pautas econômicas, políticas, sociais que viriam. Todos nós sabíamos que nossos direitos seriam cassados e que o Brasil não seria mais o mesmo depois da queda da Dilma. Assim, embora não tivessem entrado em nosso comitê, por diversas vezes lutamos juntos.
Nosso primeiro panfleto teve o seguinte título “Democracia, SIM. Golpe, NÃO!”, no qual fizemos vários questionamentos. Perguntamos à população se eles sabiam que Dilma não estava sendo acusada de corrupção, mas, sim de “pedaladas fiscais” que nada mais é que o uso do dinheiro de banco público (que seria reposto com juros) para atender, por exemplo, programas sociais, como “Bolsa Família”, “Minha casa, Minha vida” e isso não é um crime de responsabilidade. E já alertamos para os problemas que viriam: reforma trabalhista, reforma da previdência, encolhimento dos programas sociais, privatizações, leilão do pré-sal. E assim por diante.
Fomos às praças, às feiras, às ruas, a manifestações em Bauru, São Paulo, Assis, mas de nada adiantou: no dia 17 de Abril de 2016, o Congresso aprovou a abertura do processo de impeachment de Dilma numa sessão de horrores. Bolsonaro, na casa da Democracia, fez homenagem à ditadura, exaltando Ustra, o torturador. Foi uma tristeza e dor sem fim. Justamente Dilma que tanto lutou pela Democracia, que foi presa e torturada para que fôssemos livres, foi retirada de cena por sujeitos amesquinhados, medíocres, sem estatura moral para uma decisão dessa natureza, muitos deles corruptos de carteirinha.
Depois do baque, abraçamos, em seguida, o “FORA TEMER”, o vampiro que sugava todas as nossas energias e que, investigado por crime comum pelo Supremo Tribunal Federal, conseguiu se safar com a não autorização do Congresso para que fosse processado e afastado, depois de muito “toma lá, dá cá” com o “centrão”, o mesmo que volta à cena no governo atual e pelas mesmas razões.
Mas a nossa luta continuou. O grupo que tirou Dilma não queria que a esquerda voltasse ao poder, daí partiram para mais um capítulo do golpe: prender Lula! Para isso contaram com a Lava-jato e com Sérgio Moro que, chutando o Código penal e a Constituição, cometeram várias irregularidades e ilícitos. Em conluio com procuradores, como fartamente divulgou Glenn Greenwald, jornalista do “The Intercept”, Sérgio Moro criou crimes para Lula e conseguiu levá-lo para o TRF4 para um julgamento que o levaria à prisão em segunda instância.
E lá fomos nós para Porto Alegre para este julgamento. Apesar da dramaticidade do momento, foi um acontecimento épico inesquecível. Milhares de pessoas naquela cidade, para dar apoio a Lula. Houve discursos inflamados, encontros, música, protestos, choro, união e uma marcha, ao entardecer, pelas ruas daquela cidade tão linda, com um grupo de jovens tocando tambores cujos sons ecoavam por todos os cantos e alimentavam nossa alma. Por onde passávamos havia apoiadores. Foi mágico, quando passamos embaixo de uma ponte onde  milhares de pessoas com seus celulares nos filmavam e nos aplaudiam e nós os filmávamos e os aplaudíamos num espetáculo de compartilhamento de dor e alegria. Pelo caminho, deparávamos com  a tropa de choque que nos cercava, segundo eles, para nos proteger.
Lula, o preferido pelo povo, não pôde concorrer às eleições. Foi preso injustamente.
Hoje olhamos o Brasil que restou deste golpe praticado pela elite brasileira em conluio com parte do judiciário, com parlamentares corruptos, com a mídia venal e ficamos com pena de nosso país e de nós, brasileiros e brasileiras. É uma pátria desgovernada, cheia de ódio, de fome, de ”vermes” e agora de vírus. São trabalhadores ajoelhados, distantes daqueles da época do PT que tinham direitos e garantias, é uma política externa subserviente distante daquela altiva e ativa, mas... relembrando Chico Buarque em “Tanto Mar”:  “Já murchou tua festa, pá, mas certamente esqueceram uma semente nalgum canto de jardim”. É preciso navegar!
Maria Elvira Nóbrega Zelante – professora aposentada e Prof. Juvenal de Aguiar - Diretor Estadual da APEOESP, militantes do Partido dos Trabalhadores e Membros da Executiva Municipal de Marília.

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